''Um beijo é uma
demonstração de amor, gratidão, carinho, amizade, etc”, de acordo com o que diz
o dicionário. Mas a filematologia, a ciência que estuda o beijo, tem muito mais
que se lhe diga''
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Cerca de 90 por cento
da espécie humana comunica através do beijo, mas ele é muito mais do que o contato
entre lábios. É que é através de um beijo, por exemplo, que se escolhe o
parceiro sexual, diz-nos Margarida Braga, do Departamento de Psicologia Médica
da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), citando um
estudo publicado na revista científica “Evolucionary Psicology”, sobre as
diferenças de género em relação ao ato de beijar.
Esta distinção entre
homem e mulher está relacionada com o nome que se dá à ciência do beijo — a
filematologia, devido a uma característica etológica. “Pensa-se que de alguma
forma cabe às fêmeas escolher o seu parceiro para procriar e que têm uma
obrigação filogenética de encontrar um bom companheiro”, explica a docente.
Mas afinal de onde
vem o beijo? Existem pelo menos duas explicações que podem esclarecer a sua
origem. De um lado, Margarida Braga refere-nos uma teoria apontada:
“Existem teorias de que o beijo tem a ver com a alimentação boca a boca, como as aves, em que a mãe deposita com o seu bico a comida no bico da ave. Mas já há desafios a esta tese.
De alguma forma os
cuidados maternais passam muito pelo beijo, de ensinar à criança a importância
desta manifestação”. Por outro, em relação ao beijo com conotação mais sexual,
sabemos que se relaciona com o olfato e o paladar, uma explicação dada ao
Ciência 2.0, por Ana Alexandra Carvalheira, presidente da Sociedade Portuguesa
de Sexologia Clínica: “É muito possível que tenhamos começado a beijar para sentir
o gosto e o cheiro de alguém”.
Estes dois sentidos, olfato
e paladar, têm uma função importante no beijo. De acordo com Ana Carvalheira, o
olfato é “o órgão mais primitivo e mais poderoso a nível sexual naquilo que é a
atração e o prazer”.
Prazer, bem-estar e
menos stress
O beijo liberta a
oxitocina, uma hormona ligada ao amor e também excitação sexual. Através desta
libertação, aumentam também os níveis de dopamina, neurotransmissor associado
ao prazer, pois o circuito cerebral considera positivo o incremento da
oxitocina. Esta substância faz-nos referir mais uma diferença entre homem e
mulher esclarecida por Margarida Braga — é que “aumenta mais nos homens do que
nas mulheres”.
Sabe-se, resumindo,
que a estimulação cerebral causada por um beijo leva à produção de oxitocina,
noradrenalina, dopamina e s
erotonina [influenciam o humor, ansiedade, sono e alimentação]. Para além desta libertação, desencadeia-se também, durante os preliminares do ato sexual, fenómenos periféricos na dependência da libertação de testosterona e da sua degradação em estradiol (hormona sexual).
A saliva contém ainda
testosterona, sendo uma das explicações prováveis para alguns estudos referirem
que os homens preferem beijos mais húmidos e com a boca mais aberta (o que favoreceria
a estimulação sexual da mulher e permitia também avaliar a fertilidade e o
ciclo estrogênico) segundo nos explica Margarida Braga, citando a antropóloga
Helen Fisher.
Seletividade do
sistema imunológico
O beijo também está
relacionado com o sistema imunológico. “Há um estudo recente que diz que o
beijo serve para as mulheres serem expostas a determinados anticorpos que lhes
desencadeiam uma reação imune de forma a preparar para a escolha do par: há um
“match imunológico””, explica Margarida Braga. “Como a saliva é rica em
compostos químicos seria uma forma de identificação imunitária, as células
poderiam identificar outras com quem seria vantajoso conjugar”, acrescenta.
Para além disso,
sabe-se que o beijo tem vários benefícios. Um deles está relacionado com uma
forma de combate à depressão, facto que, de acordo com a docente, ainda não
está comprovado totalmente. Com um ósculo, um sinónimo para este ato, baixam-se
os níveis de cortisol, uma hormona que rege a resposta ao stress do nosso organismo,
sendo que é considerado um calmante natural.
Beijar faz ainda com
que o nosso sistema imunitário fique reforçado, visto que ele aumenta a sua atividade.
Transmitimos vírus através deste contato físico e por isso se promove “uma
espécie de defesa e um fator de equilíbrio homeostático entre nós e o
ambiente”, refere Margarida Braga. Este reforço é conseguido não apenas através
da composição dos fluidos de um beijo, mas também a nível central, pois o
cérebro tem a capacidade de equilibrar este sistema.
FONTE: http://p3.publico.pt/actualidade/ciencia/3644/um-beijo-exige-ciencia-e-ela-chama-se-filematologia#
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