Controle Biológico
O controle biológico consiste no emprego de um organismo
(predador, parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danos
econômicos às lavouras. Trata-se de uma estratégia muito utilizada em sistemas
agroecológicos, assim como na agricultura convencional que se vale do Manejo
Integrado de Pragas (MIP).
No que diz respeito às iniciativas políticas de redução
no uso de agrotóxicos, atualmente, o exemplo cubano é o mais contundente. Desde
1982, Cuba tem-se voltado para o MIP, com ênfase no controle biológico. Em decorrência
do embargo econômico imposto pelos Estados Unidos que impossibilita a compra de
agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, os agricultores cubanos aprenderam a
substituir o uso de agrotóxicos por um programa maciço de controle biológico. O
Programa cubano envolve cerca de 14 laboratórios regionais, 60 estações
territoriais de defesa vegetal espalhadas pelo país, 27 postos de fronteira
equipados com laboratórios de diagnósticos e 218 Unidades do Centro para
Reprodução de Entomófagos e Entomopatógenos, responsáveis pelo controle
biológico de 56% da área agrícola do país. Um dos aspectos importantes da
estratégia cubana é a descentralizaçãoa da produção dos agentes de controle
biológico, graças a técnicas simples e de baixo custo que foram desenvolvidas
nas duas últimas décadas, possibilitando, simultaneamente, uma produção
artesanal e de alto padrão de qualidade. Essa produção é feita pelos próprios
filhos de agricultores associados às cooperativas que trabalham na elaboração
de modernos produtos biotecnológicos em escala local.
No Brasil, embora o uso do controle biológico não seja
uma prática generalizada entre os agricultores, há avanços significativos em
alguns cultivos, devido aos esforços de órgãos estaduais de pesquisa e da
Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Um exemplo de sucesso é
o controle da lagarta da soja ( Anticarsia gemmatallis) por meio do Baculovirus
anticarsia. Essa prática foi lançada pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja
em 1983 e, desde então, o produto foi utilizado em mais de dez milhões de
hectares, proporcionando ao país uma economia estimada em cem milhões de
dólares em agrotóxicos, sem considerar os benefícios ambientais resultantes da
não-aplicação de mais de onze milhões de litros desses produtos.
Para alcançar esses resultados, todo programa de controle
biológico deve começar com o reconhecimento dos inimigos naturais da
“praga-chave da cultura” (principal organismo que causa danos econômicos à
lavouras). Uma vez identificada a espécie e o comportamento da “praga” em
questão, o principal desafio dos centros de pesquisa diz respeito a reprodução
desse inimigo natural em grandes quantidades e com custos reduzidos. Outras
estratégia, consiste no desenvolvimento dentro da propriedade de práticas culturais
( consórcio e rotação de culturas, uso de plantas como “quebra-vento”, cultivos
em faixas, entre outros) que aumentem a diversidade de espécies e a
estabilidade ecológica do sistema, dificultando a reprodução do organismo com
potencial para se tornar uma “praga”
Atualmente, nos programas de Manejo Integrado de Pragas
(MIP), existe uma tendência de caracterizá-lo não apenas como uma prática que
propõe um manejo racional de agrotóxicos, mas também como um conjunto de
práticas que inclua, além do próprio controle biológico, a rotação de culturas
e o uso de variedades resistentes.
A seguir, são apresentados alguns dos organismos
utilizados no Brasil para o o controle biológico de pragas:
Microorganismos utilizados no controle biológico de
pragas.
Agente Biológico
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O que
ele ataca
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Como
se aplica
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Fungo Metarhizium anisopliae
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Cigarrinha da folha da cana-de-açúcar
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O fungo é pulverizado e, em contato com o
corpo do inseto, causa doença.
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Fungo Metarhizium anisopliae
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Broca
dos citrus
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O fungo é polvilhado nos buracos da planta
contaminando a praga.
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Fungo Beauveria bassiana
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Besouro “moleque-da-bananeira”
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O fungo é aplicado em forma de pasta em
pedaços de bananeira que são colocados ao redor das árvores servindo de isca.
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Fungo Insectonrum sporothrix
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Percevejo “mosca-de-renda”
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O fungo é pulverizado e, em contato com o
corpo do inseto, causa doença.
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Vírus Baculovírus anticarsia
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Lagarta da soja
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Pulverizado sobre a planta o vírus adoece a
lagarta que se alimenta das folhas.
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Vírus Baculovírus spodoptera
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Lagarta do cartucho do milho
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Pulverizado sobre a planta, o vírus adoece
a lagarta que se alimenta da espiga em formação.
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Vírus Granulose
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Mandorová da mandioca
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Pulverizado sobre a mandioca o víris é
nocivo à praga.
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Nematóide Deladendus siridicola
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Vespa-da-madeira
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Em forma de gelatina, o produto é injetado
no tronco da árvore esterelizando a vespa.
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Bactéria Bacillus thuringiensis (Dipel)
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Lagartas desfolhadoras
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Pulverizado sobre a planta o Dipel é nocivo
às lagartas.
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Embora o controle biológico traga respostas positivas na
redução ou abandono do uso de agrotóxicos e na melhoria de renda dos
agricultores, analisando o conjunto de experiências realizadas mundialmente,
verifica-se que os resultados ainda estão concentrados em apenas alguns
cultivos e, principalmente, no controle de insetos. Em outras palavras, ainda
existe muito o que desenvolver nas áreas de controle de pragas e doenças.
Vale ressaltar que, segundo os princípios da Agroecologia
a superação do problema do ataque de pragas e doenças só será alcançada por
meio de uma abordagem mais integrada dos sistemas de produção. Isso significa
intervir sobre as causas do surgimento de pragas e doenças e aplicar o
princípio da prevenção, buscando a relação do problema com a estrutura e
fertilidade do solo, e com o desequilíbrio nutricional e metabólico das
plantas. O controle biológico, assim como qualquer estratégia dentro de um
sistema agroecológico de produção jamais poderá ser um “fim em si mesmo”, deve
ser apenas o veículo para que o conhecimento e a experiência acumulados se
manifestem na busca de soluções específicas para cada propriedade. Em outras
palavras, nas propriedades agroecológicas em vez dos microrganismos é o ser
humano que deve atuar como o principal agente de controle biológico.
Fontes:
Jornal “A Folha de São Paulo”, caderno “Agrofolha”, 1998.
Livro “Crise Socioambiental e Conversão Ecológica da
Agricultura Brasileira”, Silvio Gomes de Almeida e outros, Rio de Janeiro:
AS-PTA, 2001
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